Patriarcado e a prostituição

A passagem do matriarcado para o patriarcado remonta a tempos muito remotos, em que as relações sociais eram basicamente comunais, ainda em estágio primitivo. A mulher tinha lugar de destaque e o desconhecimento do real papel do homem na “criação” a colocava em lugar sagrado. Mas com a fixação do homem à Terra, na fase agrícola, a inevitável REdivisão do trabalho entre homens e mulheres (é bom lembrar que antes aos homens cabia a caça e a expansão territorial para fins de sobrevivência) e o processo de acumulação (POSSE), o homem PRECISA de um método claro e eficaz de assegurar a linha de sucessão.

Em outras palavras, ele precisa ter certeza da sua linha de descendentes a quem caberá a sucessão da propriedade. Isso leva à imposição de uma supremacia MASCULINA, à repressão sexual, ao fim das relações não monogâmicas e à imposição de uma nova forma de relacionamento pautada pela repressão sexual e pela monogamia para a mulher. Digo para a “mulher” porque o homem tem preservada a sua “liberdade sexual” e trata de objetificar a mulher para que “fora do casamento e da monogamia imposta” possa ser “consumida” livremente. Assim, nasce a prostituição como legado dessa passagem do matriarcado ao patriarcado.

Vista pela ótica do não julgamento e retirada desse contexto histórico, a prostituição adquire múltiplas expressões, inclusive sendo opção profissional para milhares de mulheres e também de homens, mas não creio que tenha perdido sua condição original de preservar espaços de “satisfação” fora dos padrões de uma sociedade monogâmica e essencialmente hipócrita.

O compartilhamento de experiências com profissionais do sexo pode ser maravilhoso e quando vivenciado pelo casal mais ainda, não se trata portanto de rotular a prática, mas desconhecer que o lugar que a prostituição ocupa em nossa sociedade ainda é o da objetificação da mulher e do sexo em geral para um homem socialmente monogâmico, seria ingenuidade. Bom seria vivermos um tempo em que homens e mulheres pudessem acessar profissionais do sexo sem tabus, sem mentiras, sem segredos.

Talvez nesse momento, a prostituição e quaisquer outras atividades que permitem a experiência sexual expandida possam ser consideradas naturais.

Creio que o acesso à prostituição em nosso tempos ainda reproduza, na maioria das vezes, o padrão dominante do “homem que pode consumir sexo quando quer” e da mulher que fica em casa cuidando dos filhos. Valorizar as profissões do sexo ou que lidam com a sexualidade (nesse caso incluo o Tantra) passa por defender abertamente que as mulheres possam vivenciar também nessa dimensão a sua espontaneidade e natureza sexual, sem repressão, nem limites.

E aí estaremos desfazendo as bases do patriarcado.

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